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Espetáculos do Valores de Minas são uma aula de cultura

25/05/2009

“Sempre Alegre Miguilim” (2008)

Inspirado em textos de Guimarães Rosa, o espetáculo colocou em cena 350 jovens que participaram da elaboração do roteiro, trilha sonora e confecção de figurinos, adereços e cenários. “Guimarães Rosa foi uma inspiração desde o início. Muita gente diz que seus textos são difíceis, e isso nos fez perceber que precisávamos ser mais simples para entender a sua obra. A partir disso, os alunos improvisaram cenas e criaram universos de Guimarães com uma propriedade incrível”, avalia Samira Ávila, coordenadora do núcleo de teatro. Cerca de 7.000 pessoas assistiram ao espetáculo. A direção geral é de Carlos Gradim e Samira Ávila, roteiro de Edmundo de Novaes Gomes, direção coreográfica e dança de Bete Arenque, direção  musical de Mestre Negoativo (Grupo Berimbrown), figurino e adereços de  Marina Bylaardt.

“Opara” (2007)

O rio São Francisco, ou Opara, na língua das tribos tupi-guarani, foi tema deste espetáculo. Com direção geral de Carlos Gradim e roteiro de Eid Ribeiro, os alunos apresentaram de forma lírica e poética um pouco das tradições e da riqueza cultural do Velho Chico. A direção coreográfica foi de Bete Arenque, direção musical do grupo Berimbrown, direção de cena de Samira Ávila, cenários de André Cortez e figurino e adereços de Marco Paulo Rolla. Além das 14 apresentações previstas, feitas para um público superior a 8.000 espectadores, os 300 jovens que integram o projeto foram convidados a participar do Festival Verão Arte Contemporânea, que aconteceu em Belo Horizonte em fevereiro de 2008.

“Estrada dos Sonhos” (2006)

O espetáculo teve direção geral de Carlos Gradim e roteiro de Eid Ribeiro. Mostrou a trajetória de um grupo de animais que desejava formar a maior banda de música de todos os tempos. Inspirada no clássico “Os Músicos de Bremen”, a direção coreográfica ficou a cargo de Bete Arenque, direção musical do grupo Berimbrown, direção de cena de Samira Ávila, cenários de André Cortez, figurinos e adereços de Marco Paulo Rolla. Atuaram na peça 300 jovens que mostraram todo o talento e técnicas desenvolvidas. Mais de dez apresentações foram realizadas, atingindo um público superior a 5.000 pessoas.

“Delírio Barroco” (2005)

Adaptado da obra “Delírio Barroco, Triunfo Eucarístico”, do dramaturgo português Gil Vicente, o espetáculo teve direção geral de Carlos Gradim e Eid Ribeiro. Este último foi responsável também pelo roteiro. A peça buscou retratar o “Céu e o Inferno” segundo as idéias, sugestões e pontos de vista dos alunos participantes do projeto. A direção coreográfica foi de Bete Arenque, a direção musical do grupo Berimbrown, a direção de cena de Fábio Furtado, cenários criados por André Cortez e figurinos de Marcos Paulo Rolla. A peça multicultural congregou técnicas de dança, teatro, circo, música e artes plásticas e contou com mais de 200 jovens em cena. Foram realizadas dez apresentações que reuniram um total de 3.000 espectadores.

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Valores de Minas se apresenta em Ouro Preto na festa da inconfidência

22/04/2009

miguilim2O encerramento da festa cívica de 21 de Abril deste ano, em Ouro Preto, ficou a cargo de cerca de 300 jovens integrantes do programa Valores de Minas, do Servas.  Os estudantes apresentaram um trecho do espetáculo “Sempre Alegre Miguilim” , inspirado em textos de Guimarães Rosa. A praça Tiradentes, onde aconteceu a solenidade,  ganhou uma outra animação, ao som dos tambores do Valores. Em uma rápida apresentação, os estudantes puderam mostrar, além do instrumental de batucada, seus dotes em canto e dança ao interpretar a música final do espetáculo apresentado em 2008.

O Valores de Minas é um programa do Servas e do Governo de Minasque oferece a jovens das escolas estaduais oficinas de arte com o objetivo de possibilitar aos estudantes formação cidadã e crescimento pessoal. Lançado em 2005 pela presidente do Servas, Andrea Neves, e pelo governador Aécio Neves, o programa beneficia, por ano, cerca de 500 estudantes. São oferecidas oficinas de teatro, circo, música, dança, artes plásticas. Ao final de cada ano os jovens apresentam um espetáculo multidisciplinar.

A data, Dia de Tiradentes, foi celebrada com a tradicional entrega da Medalha da Inconfidência, a maior comenda do Governo de Minas Gerais. Presidindo a solenidade, o governador Aécio Neves ressaltou a importância da valorização que Minas concede a esta data histórica. Este ano, a solenidade marcou também os 220 anos da Revolução Francesa e da Inconfidência Mineira, dois movimentos revolucionários que promoveram grandes transformações na história do Brasil e da Europa.

Na solenidade deste ano, a Praça se enfeitou de branco e vermelho, cores da bandeira de Minas, além do verde, amarelo e azul, da bandeira do Brasil, reforçando os laços entre França, Minas e Brasil. Um gigantesco tapete de serragem, símbolo da manifestação popular do povo ouro-pretano, chamou a atenção pela beleza e grandiosidade. Com 502 metros quadrados, serviu de cenário para toda a solenidade. O tapete foi montado por artistas da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), em frente ao Museu da Inconfidência.

Dirigida pelo terceiro ano consecutivo pelo dramaturgo Gabriel Villela, a solenidade do 21 de Abril,  teve forte apelo cívico, político e cultural. Com a participação de centenas de artistas mineiros a solenidade emocionou quem chegou cedo à Praça Tiradentes. Entre os presentes estavam a ex-primeira dama da França Daniele Mitterrand, a empresária Lily Marinho, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, além de autoridades e personalidades que representam o relacionamento entre o Brasil e França.

Durante a cerimônia, o governador Aécio Neves, acompanhado do embaixador da França, Antoine Pouillieute, orador oficial do evento, passou em revista à tropa e prestou homenagens ao mártir da Inconfidência Mineira, ao lado da tetraneta de Tiradentes, Lúcia de Oliveira Menezes.

O ator Marcello Antony retirou o fogo simbólico do Panteão da Inconfidência e o entregou aos cadetes da Polícia Militar, representando os 13 inconfidentes, que o conduziram ao som de “O Guarani”, de Villa Lobos, até o governador Aécio Neves para o acendimento da Pira da Liberdade.

Outro momento marcante foi a execução do hino nacional brasileiro, interpretado pelo grupo Ponto de Partida, de Barbacena, o hino de Minas Gerais, cantado por Milton Nascimento, e o hino da França, A Marselhesa, interpretado pela cantora Bibi Ferreira. O ator Marcello Antony recitou trechos do poema “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meirelles. A praça Tiradentes ganhou um colorido especial com o Objetos Voadores, concebidos pela artista plástica Ana Gastelois.

Na solenidade, o Governo de Minas prestou uma homenagem às pessoas com deficiência. Cerca de 200 deficientes assistiram à cerimônia, em espaço com acesso devidamente adequado, na Praça Tiradentes. A homenagem é um reconhecimento e estímulo às políticas públicas realizadas no Estado pela Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência (CAADE) que completa 27 anos em 2009.

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A gente quer comida, diversão e arte

04/04/2009

OPARA

Boas Práticas

Fonte: http://sabercuidar.org/
por Newton Correia

Na área da assistência existem vários caminhos para promover a inclusão de grupos sociais, que vivem à margem de uma sociedade injusta e desigual. Durante muito tempo houve a insistência de não oferecer abrigo para quem precisa de abrigo e de não oferecer comida a quem precisa de comida.

Todos se lembram do sociólogo Hebert de Sousa, o Betinho, e da luta dele contra a exclusão social. Ele dizia que “quem tem fome tem pressa”, e, dessa forma, iniciou um movimento que conseguiu mobilizar todo o país. Podemos dizer que o esforço do Governo Federal em manter o Bolsa Família, vem dessa luta de fortalecer a rede de proteção social.

Não quero entrar aqui no mérito se o programa funciona adequadamente ou não, isso é conversa para outro post. O que quero enfatizar é que o movimento de Betinho permitiu que a sociedade pudesse fazer uma melhor avaliação sobre a necessidade de criar mecanismos de assistência e apoio às famílias que vivem abaixo da linha de pobreza.

Acredito que já houve um grande avanço, mas é preciso avançar muito mais, agora em outras áreas. A luta desigual contra a violência revela a incapacidade do Estado em garantir a ordem e manter uma política de combate efetivo contra o tráfego de drogas e a violência nos grandes centros.

Acredito que ainda falta percepção sobre a realidade social do país. Falta bom senso e boa vontade para que se possam criar instrumentos eficazes de geração de oportunidades. O senador Cristovam Buarque tem mobilizado o país para a causa da educação. Concordo e apoio este esforço, tenho certeza que é por meio da educação que realmente vamos transformar o Brasil.

Mas existe outro instrumento que pode ser agregado à educação, promover mudanças sociais radicais, transformar vidas e elevar a autoestima. Falo da força da arte. Há muito tempo que tenho ouvido alguns especialistas comentarem que o século 21 seria a era das artes como instrumento de promoção social e espiritualidade.

Existem várias iniciativas pelo país que mostram que a arte, quando entra em comunidades carentes, tem ajudado a fazer a diferença na promoção da cidadania, no resgate de jovens da marginalidade e em algo que é vital para essas pessoas: a possibilidade de ter esperança. Falo da possibilidade de acreditar que tudo pode ser construído de forma diferente.

A música Comida dos Titans; composta em 1987 por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Brito, mostra bem o que também é muito importante. Tem um trecho da letra que diz o seguinte:

Bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.

Desde que a música foi composta já se passaram 22 anos e poucas pessoas que estão à frente dos órgãos públicos tiveram a percepção de que os excluídos não querem só comida. Diversão e arte podem gerar novas oportunidades e criar novos valores de vida.

Valores de Minas, transformando vidas pela arte

Recebi recentemente de Andrea Neves, presidente do Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social um press kit com as ações do Governo de Minas nas áreas de promoção e inclusão social. Fiquei muito bem impressionado com o trabalho e a forma como atinge crianças, jovens e idosos. Gostaria de comentar cada um dos projetos, mas deixo isso para outra oportunidade.

Quero concentrar as observações no programa Valores de Minas, que muito me emocionou. No material que me foi enviado, vieram também dois DVDs: um sobre a apresentação do Estrada dos Sonhos e outro sobre Opara, que em guarani quer dizer Rio São Francisco. Dois belos espetáculos que primam pela beleza cênica e por um conteúdo transformador.

O programa, que completa cinco anos, reúne anualmente cerca de 500 estudantes da rede pública estadual, integrantes do Projeto Escola Viva e Comunidade Ativa que desenvolvem ações multiculturais na área do teatro, dança, circo, música e artes plásticas. Durante um ano, eles recebem aulas de história das artes, literatura, ética e cidadania.

Todo o trabalho realizado é apresentado para o público no final do ano em uma megaprodução. Mais de 20 mil pessoas já assistiram aos espetáculos que são um sucesso de público e de crítica. Uma aula de cultura que caracteriza de forma marcante o jeito mineiro de fazer arte, contando parte da sua história e das suas raízes, sempre com ênfase nas questões sobre a atuação do homem no meio ambiente.

Acredito que o Valores de Minas tem um modelo que pode ser facilmente replicado em outros estados e municípios. É a arte que educa e que transforma o cidadão do futuro, porque são esses jovens que vão ajudar a construir uma sociedade mais fraterna. Isso é saber cuidar, é oferecer oportunidades, é inovar. É preciso que as três esferas do poder façam um esforço concentrado para que se mude a realidade violenta dos grandes centros urbanos.

Para isso, basta olhar os números produzidos pelo programa. Desde 2005, o Valores de Minas chegou em quase 100 escolas, formou mais de 2 mil alunos, criou cerca de 250 multiplicadores culturais para atuar nas comunidades, capacitou quase 200 professores e atendeu por meio de oficinas de arte e cultura mais de 1,2 mil estudantes.

Pode-se perceber que a intenção do projeto não é formar artistas, claro que em um trabalho deste porte é possível fazer com que os jovens encontrem as suas vocações nas artes. Mais o que realmente se observa, é que uma ação desse porte provoca profundas transformações no ser humano: renova os valores, melhora de fato a autoestima, o faz mais crítico e oferece ferramentas para se transformar em um cidadão mais consciente.

Tem um aspecto que acho fundamental e que está no texto escrito por Andrea Neves na apresentação do Valores de Minas. “O programa acalenta a possibilidade de que cada jovem possa construir para si e para o seu entorno um mundo realmente melhor. Mesmo porque, como nos disse Guimarães Rosa: sábio não é quem sempre ensina, mas quem de repente, aprende”.  Fica aí mais uma reflexão. A gente quer comida, diversão e arte.

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Valores de Minas: arte que se aprende na escola

20/03/2009

Oficinas de arte fazem parte do Valores de Minas

Oficinas de arte fazem parte do Valores de Minas

Para a presidente do Servas, Andrea Neves da Cunha, o Valores de Minas, lançado em 2005, tem a cada ano, mais motivos para comemorar, além das oportunidades de crescimento pessoal oferecidas pelo Programa, no campo da arte, educação e cultura.

Em 2009, como nos anos anteriores, participantes do Programa são vitoriosos também no ingresso na faculdade, em áreas oferecidas no Valores de Minas.  O mais importante Na fase da vida escolar em que todos os estudantes escolhem a profissão que irão seguir, Jéssica de Souza, de 17 anos, pensou em prestar vestibular para nutrição, biblioteconomia ou letras, já que, até então, nunca tinha tido contato com as artes. Em março do ano passado, a então estudante da Escola Estadual Domingas Maria de Almeida, em Ibirité, ingressou no programa Valores de Minas, do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), participou da oficina de teatro e hoje comemora a aprovação no vestibular de Artes Cênicas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Jéssica vai começar o curso no segundo semestre.

“Desde pequena gostava de desenhar, pintar, ler, mas nunca tinha tido oportunidade de um contato maior com as artes. O Valores de Minas me abriu portas, conheci professores, artistas. Pensei que gostava de artes plásticas, até o dia em que fiz a primeira aula de teatro. Fiquei apaixonada e decidi fazer vestibular”, conta Jéssica. Ela afirma que vem de uma família humilde e que os pais não fizeram curso superior. “Estou vivendo um sonho e toda a minha família está muito feliz por mim. Pretendo dar aulas de teatro quando terminar o curso e, claro, continuar como atriz”. Jéssica participou como aluna do Valores em 2008 e, este ano, permanece no programa como multiplicadora.

Desde 2005, o Valores de Minas oferece a jovens mineiros de escolas públicas oportunidades de crescimento por meio de oficinas artístico-culturais de teatro, circo, dança, música e artes plásticas e recebe, a cada ano, centenas de estudantes. O Valores de Minas já formou 1.950 pessoas, entre alunos, multiplicadores, professores de arte da rede estadual e ex-alunos que fizeram o curso de extensão.

Assim como Jéssica, Ana Paula Guimarães, de 19 anos, prestou vestibular para Artes Cênicas na UFMG, após cursar a oficina de teatro no Valores de Minas. Ana Paula já está no 2º período do curso e já faz parte de um grupo de teatro. “Faço dança desde os nove anos e sempre quis seguir carreira artística. Entrei para o Valores, fiz outras oficinas, mas foi o teatro que me fascinou. Os professores são excelentes e, além da formação cultural, temos também formação do lado psicológico”, disse.

Ana Paula faz parte do grupo teatral “Produzarte” que participou  da Campanha de Popularização do Teatro da prefeitura de Belo Horizonte, na peça “A Bela Adormecida”.

O que não faltam para a jovem Sinara Teles, 21 anos, são planos para o futuro como atriz. Engajada e determinada, ela está concluindo o curso técnico de teatro do Centro de Formação Artística (Cefar), do Palácio das Artes. Moradora de Venda Nova, ela participou do Valores na primeira edição do programa, em 2005, e como multiplicadora em 2006. Ela conta que não conhecia nada de teatro, cinema e artes em geral. “Na escola temos contato com educação artística, mas é pouco. No Valores, tive a oportunidade de conhecer de perto as artes plásticas, a dança e o teatro”. Hoje, Sinara integra o grupo teatral “Coccix”, que está sendo oficializado e vai montar, até o final do ano, o espetáculo “Meu canto de graça”.

“Quero continuar meu trabalho como atriz, mas quero também levar a arte para a periferia. Quero mostrar ao meu bairro o melhor que ele tem, os artistas que ele tem. Para isso, estou desenvolvendo o projeto Pontapé e procuro levar um pouco mais de cultura para Venda Nova”, relata.

Profissionalismo e disciplina
Para a coordenadora do Valores de Minas, Iara Fernandez, o sucesso profissional dos alunos se deve ao fato de que o programa ensina a ter disciplina, rigor com horário e responsabilidade, aspectos fundamentais para o sucesso.  “O talento é muito importante, mas não é tudo. O trabalho do Valores é em nível profissional, já que a arte exige disciplina”, enfatiza.

Ela se diz orgulhosa e feliz por ver os resultados de quem passou pelo programa. “O Valores é uma grande oportunidade para que os jovens menos favorecidos tenham a chance de dizer: ‘eu posso, eu consigo, isso é para mim´ e darem continuidade a esse sonho”, afirma. Iara diz que fica muito feliz não só quando os alunos tomam gosto pelas artes e continuam nessa área, mas também, quando conseguem um emprego. “Eles entram no programa de um jeito e saem de outro completamente diferente. Saem mais soltos, mais confiantes e isso ajuda também nas entrevistas de emprego”.

Diversos alunos do Valores hoje estão cursando design, artes plásticas, psicologia, música entre outros cursos. Iara Fernandez afirma que todos os dias ela tem noticias boas dos jovens que passaram por lá. “Isso é muito gratificantes e nos motiva a fazer cada vez mais”. A edição 2009 do programa está prevista para começar em abril.

www.servas.org.br

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Destaque na imprensa: Por um Miguilim sempre alegre

15/03/2009

miguilim

Felipe Torres
Especial para o Hoje em Dia

No universo do escritor mineiro João Guimarães Rosa, Miguilim mora com sua família em Mutum, lugar remoto do sertão das Gerais. Inteligente e delicado, o garoto, de 8 anos, está sempre empenhado em compreender as pessoas e as coisas que o cercam, recriando a cada gesto ou palavra o seu próprio mundo. Um universo infantil – sensível e emotivo – que reflete as etapas da sua vida tumultuada, imersa em dramas pessoais.

Certo dia, um tal Dr. José Lourenço descobre que Miguilim sofre de miopia e resolve lhe emprestar os óculos. Quando o garoto abre os olhos, leva um susto. As lentes lhe rendem uma visão nítida, bonita e atraente do que antes era feio e sem graça. A nova percepção, agora privilegiada, guia a criança a diferentes caminhos e a faz explorar ainda mais a riqueza de detalhes das relações sociais que ele tem contato.

E são justamente as descobertas de Miguilim, presentes na novela “Campo Geral”, a inspiração para a peça teatral “Sempre Alegre, Miguilim”, que cerca de 350 alunos do Projeto Valores de Minas apresentarão, a partir desta quinta-feira até o dia 7 de dezembro, às 19h30. O evento acontece no espaço do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), – na Avenida dos Andradas, 767, Centro, em Belo Horizonte – associação civil que viabiliza o programa há quatro anos. O preço da entrada é um quilo de alimento não perecível.

O espetáculo é apenas o “toque final” do Valores de Minas. Desde março, o projeto apresenta a 500 estudantes, dos 14 a 24 anos, vindos de escolas públicas estaduais, a “magia” da arte e da cultura. Para que eles, assim como a personagem de Guimarães Rosa, possam também desfrutar dos seus “óculos imaginários” e se conscientizar que a vida oferece novos caminhos, ou seja, pode ser ressignificada. A arte como instrumento de transformação.

Entre as oficinas de teatro, música, circo, artes plásticas e dança, Daniele Souza, de 21 anos, escolheu participar da última, já em 2005. “É felicidade demais estar aqui. Sempre gostei de dança e tento me aperfeiçoar nas aulas”, diz ela. Daniele, além de aprender, agora também acumula outra nobre função: a de ensinar. Ela foi convidada a participar do módulo “Multiplicadores”, que capacita estudantes para se tornarem agentes de disseminação das suas experiências na família, comunidade e escola.

“Sei como organizar minhas idéias e passá-las aos outros. Dou aulas de dança para crianças e idosos da terceira idade no meu bairro”, ressalta a jovem, que mora no Bairro Tirol, região do Barreiro. Daniele se mostra contente com o trabalho e tem a certeza de uma coisa: “cresci em termos de cidadania. Antes eu só ouvia falar em ética, compromisso e responsabilidade. Agora, coloco tudo em prática”, diz.

Ao contrário de Daniele, Eloísa Gonçalves, de 15 anos, começou no Valores de Minas neste ano, mas carrega consigo a mesma animação. “Fiz de tudo para integrar as oficinas artísticas. Fazia parte de um grupo de axé e percebi que poderia aprender novas modalidades, como o jazz”, afirma. Eloísa lembra que passava a maior parte do seu tempo livre de forma ociosa, na rua ou em frente à TV. “Mudou muita coisa no meu comportamento. Estou amando fazer dança, que me deixou mais esperta e concentrada. Com isso, meu rendimento na escola aumentou. Sou até elogiada pelos professores”, empolga-se. Ela não se esquece de agradecer seus pais, os primeiros a lhe incentivar a buscar o aprendizado cultural.

Programa acontece em três fases

As atividades do programa desenvolvem-se em três fases. No primeiro semestre, os jovens têm acesso a todas as oficinas, numa carga horária de 12 horas semanais. A partir daí, se especializam, de acordo com interesse, aptidão ou talento, na área que pretendem cursar . Os preparativos e o espetáculo teatral são a fase final. Todos os estudantes colaboram, conjuntamente, na elaboração do roteiro, da trilha sonora e da confecção dos figurinos, adereços e cenários da peça. Aulas de Cidadania e Ética, História da Arte e Literatura também são ministradas no período.

O professor e coordenador musical, Ronilson Silva, músico da banda Berimbrown, conta que a alteração comportamental dos garotos é notória durante o convívio no projeto. “Eles chegam aqui acanhados, mas, aos poucos, como são de regiões diferentes, começam a trocar idéias e as experiências que já viveram. Com certeza, entram de um jeito e saem de outro”, assegura Silva. O jovem Edmilson Ferreira já sente a própria mudança de mentalidade. “Eu era tímido, não conversava com ninguém. Até que me soltei e fiz muitos amigos”, alegra-se.

Ronilson revela também que alguns dos seus alunos acabam seguindo carreira na área. “Meninos que passaram por aqui formaram uma banda de soul/funk, chamada ´Black de Neve´. Fiquei sabendo que eles estão bem e continuam firmes”, afirma o professor. Rodrigo Marinho, de 24 anos, é um dos que não quer mais largar a música. O violonista já pensa até na universidade. “Estou terminando o Ensino Médio e vou fazer um curso superior de música, para me especializar no violão erudito. A oportunidade de continuar fazendo o que gosto”, garante. Rodrigo afirma que aprendeu muito no Valores de Minas, principalmente no quesito “harmonia”, segundo ele, válido tanto para as notas musicais quanto para os momento de encarar os desafios.

“Nossa função é mostrar que a arte existe. Os meninos não sabem o que é a arte. Então, damos corda a eles e apontamos os caminhos, até em relação ao mercado de trabalho”, diz Marina Bylaardt, coordenadora da oficina de artes plásticas. E foi o prazer de descobrir o “criar” que atraiu Eduardo Rodrigues, de 15 anos, para as aulas de artes plásticas. Rodrigo não pára um minuto, sempre focado em deixar os figurinos, os adereços e o cenário da peça teatral perfeitos. “Desenho, escultura e pintura, enfim, é tudo legal”, resume ele.

E sabe aquelas acrobacias circenses, inimagináveis de serem executadas? Pois para Jocasta da Cruz elas não metem mais tanto medo. “Eu já havia feito circo antes, mas no projeto aprendo novos números, técnicas e muitas acrobacias. Me deparo com algo novo todas as horas. Participar do projeto é recompensador, mas difícil”, destaca.

Jocasta tem razão. Samira Ávila, responsável pela oficina teatral, assegura que é preciso muita seriedade e comprometimento para integrar o projeto. “O Valores de Minas é uma brincadeira séria, que exige empenho e doação dos participantes. Ao longo dos dias, perdemos alguns dos freqüentadores, pois eles não conseguem se entregar totalmente ao programa. Muitos já trabalham, o que inviabiliza o processo”, esclarece Ávila.

Na direção-geral do espetáculo “Sempre Alegre, Miguilim” – ao lado do diretor teatral Carlos Gradim – Samira Ávila esteve presente nos quatro anos do Projeto Valores de Minas. “Tudo era um sonho, mas o programa aconteceu”, diz.

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Valores de Minas traz Sempre Alegre Migulim

15/01/2009

miguilim1Valores de Minas apresenta, de 28 de novembro a 7 de dezembro 2008, o quarto espetáculo do Programa, “Sempre alegre, Miguilim”, que coloca em cena o trabalho desenvolvido por estudantes de escolas públicas estaduais do Projeto Escola Viva, Comunidade Ativa, em 2008.

Uma iniciativa do Governo Aécio Neves e Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), o Programa foi criado em 2005 para oferecer a jovens mineiros oportunidades de crescimento por meio de oficinas artístico-culturais de teatro, circo, dança, música e artes plásticas e recebe, a cada ano, centenas de estudantes.

Além das oficinas nas diversas áreas, os jovens têm aulas de Cidadania e Ética, História da Arte e Literatura, além de freqüentarem exposições, shows, teatro, cinema e eventos culturais em geral. As atividades são desenvolvidas de terça a sexta-feira, em dois turnos: pela manhã, de 8h30 às 11h30, e à tarde, de 14 às 17h, num espaço exclusivo, na avenida dos Andradas, 767, com área de 3.550 m². Os jovens recebem uniforme, mochila, kit higiene e vale-transporte para os deslocamentos, lanche no intervalo das oficinas, além de reforço escolar nos fins de semana.

Na primeira etapa, no primeiro semestre de cada ano, os estudantes têm 12 horas/aula semanais e participam de eventos e atividades externas. Na segunda etapa são selecionados cerca de 300 jovens, que continuam participando de oficinas, de acordo com a aptidão, talento ou interesse de cada um. Como projeto de final de curso, os jovens desenvolvem um espetáculo multicultural.

O Valores de Minas também oferece a continuidade do trabalho artístico com 70 jovens selecionados para o módulo “Multiplicadores”. Neste módulo, esses jovens são treinados para que se tornem multiplicadores da experiência em suas comunidades e escolas. O programa tem ainda o módulo Formação Continuada que oferece atualização por meio de experiências teóricas e práticas aos professores de Artes das escolas estaduais do Projeto “Escola Viva, Comunidade Ativa”.

Desde 2005, o Programa Valores de Minas já formou 1950 pessoas, entre alunos, multiplicadores, professores de arte da rede estadual e ex-alunos que fizeram o curso de extensão.

Guimarães Rosa “Sempre alegre, Miguilim”

Inspirado em textos de Guimarães Rosa, o novo espetáculo coloca em cena 350 jovens que participaram da elaboração do roteiro, trilha sonora e confecção de figurinos, adereços e cenários.

Este é o quarto ano do Valores de Minas, que tem entre os resultados neste ano, além do espetáculo, a edição do segundo livro de poesias, “Versos sem rumo”, de autoria dos alunos.

“Guimarães Rosa foi uma inspiração desde o início. Muita gente diz que seus textos são difíceis, e isso nos fez perceber que precisávamos ser mais simples para entender a sua obra. A partir disso, os alunos improvisaram cenas e criaram universos de Guimarães com uma propriedade incrível”, avalia Samira Ávila, coordenadora do núcleo de Teatro.

O espetáculo, que será apresentado para a comunidade, estudantes de escolas públicas estaduais do Projeto Escola Viva, Comunidade Ativa, familiares e público geral, tem público estimado em 7.000 pessoas.

O Banco BMG, além de parceiro do Programa ao longo do ano, patrocina o espetáculo Sempre alegre, Miguilim, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

São parceiros do Valores de Minas em 2008: Banco BMG, Cemig, Fiat Automóveis, Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), Associação dos Atacadistas Distribuidores do Estado de Minas Gerais – Ademig, Drogaria Araújo, Fidens Engenharia, Instituto Orvile Carneiro, Mate Couro, Senac Minas, Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de Minas Gerais – Silemg, Vilma Alimentos, Eas Tecnologia e Informação.

Espetáculo SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM

Direção Geral – Carlos Gradim e Samira Ávila
Roteiro – Edmundo de Novaes Gomes
Direção Coreográfica/Dança – Bete Arenque
Direção Musical – Mestre Negoativo (Grupo Berimbrown)
Direção, Concepção e Criação de Figurino e Adereçagem/Artes Plásticas – Marina Bylaardt
Direção de Cena/Teatro – Samira Ávila, Cynthia Paulino e Simone Salles
Elenco – Jovens do Programa Valores de Minas
Cenografia – Edd Andrade (Osla Arquitetura)
Criação de Luz – Fábio Retti
Assistentes de Direção – Cynthia Paulino e Leonardo Bertholini
Assessoria Coreográfica – Rodrigo Bboy e Cynthia Rider
Assessoria de Movimentos Circenses – Victor Ovídio e Cláudio Bento (Trupe Tralha)

Valores de Minas – Espetáculo SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM
Local: Avenida dos Andradas, 767 – Centro (em frente ao Parque Municipal)
Período: 28 de novembro a 07 de dezembro de 2008
Horário: 19h30
Informações: (31) 3273-7171